sábado, 19 de setembro de 2009

O clichê do clichê

Quantas vezes eu parei e pensei antes de falar o que eu queria? Na verdade não sei, não contei, mas lembro que as frases mais importantes da minha vida eu deixei de falar porque era clichê. É difícil parar e pensar nisso depois de tanto tempo, hoje eu sei que não faria tanta diferença na minha vida, mas talvez me livraria de alguns meses de angústia por ter me calado.

Filme - Apenas o Fim:

“Falar sobre amor é muito clichê!”

“Eu acho que falar que falar sobre amor é muito clichê é que é clichê!”

Afinal, ainda existe clichê hoje em dia? É engraçado porque nunca tive preconceito nenhum em falar eu te amo a meus amigos e familiares, é até bem comum e se esqueço de falar fica faltando alguma coisa, mas o que não entendo de verdade é que é muito difícil de falar isso quando o amor tem um outro significado, quando ficar ao lado da pessoa te causa falta de ar, o seu sono passa e seus olhos apenas seguem esse ponto, nem é tão bonito ou não gosta das coisas que você queria que gostasse, mas é essa pessoa, é com essa pessoa que as palavras correm de teu peito e saltam à sua boca mas você às interrompe, e porque? Você acha muito cedo? Mas amanhã, como foi o meu caso, já era muito tarde, as palavras não tinham mais valor, elas já soavam com um peso de magoa, não eram puras.

O momento passou, aquelas palavras ditas não alterariam o desfecho das semanas seguintes, mas me daria um momento a mais de glória. Uma luz nos olhos e um sorriso amarelo para quando eu de repente lembrasse disso andando por aí.

O clichê só é clichê quando não é verdadeiro, é aquilo que precisa ser dito naquele momento só para se parecer com a cena da novela das oito, é o artificial, esqueça, de um sorriso, um sorriso verdadeiro e será exatamente esse o sentimento que você vai passar, não invente sensações irreais, devaneios de um possível amor de histórias já contadas, invente a sua história! Aposto que será exclusiva e muito mais interessante do que aquela de mentira que você vê todos os dias.

Amor não vai acontecer num dia ensolarado com você perfeitamente arrumado, construído, ensaiado. Quando o amor acontece é quando você menos espera, depois daquele dia péssimo do trabalho em que você esqueceu de retocar a maquiagem ou de colocar a camisa nova, mas o momento improvisado será tão belo que o cenário ou você não farão a menor diferença.

Fotos: Se você sabe quem anda escrevendo essa frase pelas ruas de São Paulo, me apresente, porque esse cara é um gênio. A última (essa aí de cima) fui eu que tirei durante Virada Cultura deste ano.













sábado, 12 de setembro de 2009

Durante a Tarde

Estava entediada, tinha a mania de fazer amizades muito facilmente, mas tinha mais facilidade em se enganar, tinha o pé atrás e parecia mesmo um bicho do mato sempre que via uma atitude diferente, mesmo assim secretamente mantinha fascinação por novas descobertas, almejava a controvérsia, queria profundamente descobrir o certo pelo errado.

Naquele dia mais uma vez não queria ir para casa, resolveu enrolar na saída de seu colégio e saber o que acontecia por lá depois que boa parte dos alunos já estavam em suas casas almoçando e assistindo a desenhos animados.

- Hey, o que você faz aí?

- To fazendo hora, não quero ir embora agora.

- Estou indo ver uns amigos num estúdio de Arte Urbana, que ir?

Amava a arte em qualquer de suas expressões, via beleza em rabiscos coloridos nos muros de seu caminho para casa também quando via gravada na pele das pessoas ou em seus livros de história.

Quando chegou à porta do velho prédio rabiscado em cinza e preto com fotos, cores formas desenhadas nas paredes internas das salas onde haviam rapazes conversando lembrou-se de uma discussão que tivera uns dois anos antes com uma colega de seu antigo colégio que pediu transferência com grande prazer por não ver mais os que e quem tinha deixado lá.

A amiga: - Você é estranha, gosta só do que é feio. Tatuagem? Minha mão disse que quem faz isso está marcando o mal no corpo, Deus nos colocou no mundo e é exatamente como nos colocou ele quer nos receber de volta.

Ela: - Que porra de papo é esse garota? Se fosse assim não receberia pessoas calejadas de tanto trabalhar para sobreviver, envelhecidas e experientes, ou até mesmo você que já aprendeu um monte de coisa inútil e já não é mais a pessoa que um “Ele” tenha deixado.

A amiga: - Mas ele recebe pessoas boas?

Ela: - E desde quando alguém provou alguma aparência ou classificação considerada boa no além? Você nem sabe o que é bom ou mal.

Ela acreditava que as pessoas são diferentes e ninguém tinha o direito de criticar essa diferença, muito menos tentando fazer uso da religião nisso.

Para ela naquele momento ela sabia que o bom era descobrir o novo.

Ele: - E aí quem é você que eu nunca tinha te visto por aqui?

(Coração bate forte)

Ele: - Gostei de você!

Mal sabia ela que depois dessa tarde ela estava presa a uma teia da qual nunca mais sairia, pois essa era sua concepção de bom ou ruim, descobrir o novo e depois saber qual era o resultado.

Ele bem mais velho e controverso a qualquer padrão usado pelas amigas, supria sua fascinação por tatuagens, pois ele tinha-as a mostra em seus braços, demonstrava todo o sei interesse por ela e chegava a esquecer os outros que conversavam com ele.

No ano seguinte:

Ele: - E aí, você quer dar uma volta para ficarmos sozinhos e conversarmos melhor?

Ela: - Você, ficar sozinho comigo para conversar? Desde quando? Vamos!

Havia mudado porque buscou algo diferente, não estava feliz e agora era outra pessoa, era quem queria ser.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A Princípio

Resolveu de vez enterrar todos aqueles que nela tocaram, decidiu esquecer, e deles só restaram os olhos, que para ela significava a única parte verdadeira da história, o resto ela não sabia mais distinguir se fora realidade ou devaneio.


Sua cabeça trabalhava demais, conseguia se lembrar de qualquer detalhe importante que vivera, até mesmo os desnecessários, ao mesmo tempo frenético em que fabricava pensamentos, dos mais úteis aos mais fúteis possíveis. Quando recordava, podia sentir novamente e com a mesma intensidade de antes o arrepio, o temor que lhe corria pela espinha quando era tocada por ele, porém essa nostalgia a machucava como navalha nos pulsos, não sabia mais se o que sentia era algo novo ou apenas nostalgia.



Com um novo tocar, sua pele se arrepiava novamente, mas ela lutava para que seu passado não a encontrasse e deste modo as lembranças permaneceriam intocáveis, estáticas e guardadas, mas ao lutar p/ deixá-las perdia o agora e o momento se tornava inútil, se via rodando e todo novo momento se tornava o passado.


Sua vida era como uma busca incansável por um estranho q já conhecia e ria bestamente porque era claro que sua procura não servia para nada, pois o combinado era que ele a encontraria.



Mas quem é ele? Todos eram falsos, até os mais verdadeiros pareciam errados, ou era o contrário? Ela estava nesse mundo para experimentar outras sensações, o descompromisso com um amor apenas no início parecia um monstro, mas com o tempo tornou-se uma cegueira boa, que deixa os outros sentidos aguçados e se torna praticamente desnecessário. As sensações agora não eram somente o êxtase e o delírio agora também tinha os raios de sol dos dias de inverno, a água do mar tocando a base de seus pés quando a onda se aproxima.



Agora ela era vida!